ENTREVISTA:Ademir Pascale: Primeiramente, agradeço por ceder a entrevista. Para iniciarmos, gostaria de saber como foi o início da carreira de James McSill como consultor literário internacional?
James McSill: É um prazer dar uma entrevista. Um “coach literário e afins”, como eu, dando entrevista, é uma coisa nova. Se “googlar” ENTREVISTA COM COACH LITERÁRIO é capaz de não aparecer ninguém! Eu mesmo, só resolvi aparecer, por causa do Brasil – e isso foi em maio deste ano, depois de décadas de estrada rodada. Mas é assim mesmo: “coaches”, “personal trainers” (e isso vale para psiquiatra ou ginecologista/urologista. Para celebridade, pior ainda), entrevistas nossas sempre deixam os clientes nervosos. Eu entendo e aceito. Quando me pedem referências, por exemplo, eu escrevo para alguém para quem trabalhei, e pergunto se posso passar o e-mail ou o telefone de quem me pediu a referência.
No início de carreira era muito, muitíssimo pior. No meu caso: eu não acordei um dia e disse: “vou trabalhar com autores auxiliando-os no processo da escrita”. Pelo que me resta das memórias daqueles dias, foi assim diferente. Eu acordei um dia e disse: “oh, mygod, gente diferente fala diferente”. Eu devia ter uns quatro aninhos. Eu havia sido criado em contato com pessoas que falavam português, brasileiro e continental, inglês, espanhol e com algum francês espremido no meio. Só que, para não me estender, eles falavam as suas respectivas línguas e euzinho, com o dom que Deus me deu (brincadeirinha), absorvera e falava TODAS as deles. E cresci bi (língue) ou tri – ou poli, pois quebrava o galho em francês.
Fui fazer – surpresa! – LETRAS. E já, na época (1974 ???), lia de tudo em todas as línguas que sabia. Gostava de ver os idiomas sendo usados para efeito artístico. Cheguei a (segredo!) escrever para o teatro, anos 70; TV, nos anos 80 (um programa infantil, tipo Vila Sésamo. Eu escrevia e “marionetava”); nos anos 90 escrevi comerciais. Gostaria de colocar um deles no YouTube quando descobrir como se faz.
Ops! Já estamos nos anos 90? Bom, vou andar pra trás uns cinco anos. Eu lecionava inglês, traduzia, editava – vivia na Escócia e no Brasil. Tinha voltado a estudar (business) e procurava uma nova metodologia para ensinar e aprender línguas. Encontrei: chamava-se TASK-BASED LEARNING (TBL) – está tudo, aliás, na Internet. E foi através do TBL que conheci autores que escreviam livros dentro deste sistema e gente que escrevia historinhas ou então, adaptava livros usando um programa de computador produzindo CONCORDANCES (listagem de palavras mais usadas) para vender a quem tinha um vocabulário de inglês limitado. Isto é, utilizando 300 palavras, se bem editado, dava para “traduzir” até William Shakespeare. Em parceria, para ganhar umas librinhas a mais, ajudei um autor ou outro. A Jane e o Dave Willis, entre eles. Os dois, autores de mais livros do que consigo me lembrar, apresentaram-me para Gweneth Fox, que era ninguém menos que a editora-chefe da Collins Co-Build, subsidiária da Harper Collins.
Acabei me envolvendo tanto com o trabalho, com a produção e edição dos livros – pois eles precisavam de pessoas que falassem várias línguas e operassem em diversas culturas – que empresas começaram a me contratar para consultoria na área. Quando me dei conta, eu virara “Mr Collins Co-Build” e, sem falsa modéstia, punham-me logo abaixo da Jane e do Dave como um expert na coisa.
Como um expert (ou a percepção de que eu seria um expert) mudou tudo! A TBL me fez viajar muito durante bastante tempo. Daí, suponho, vem essa coisa do “internacional”.
Na virada do milênio o tal TBL caiu de moda, e a HarperCollins fez um “downsizing”, o que eu havia construído a duras penas, e a reputação como Mr Co-Build, inclusive, foi pro brejo. Só que, já naquela época, eu andava dando os meus tirinhos em pequenas editoras como “editor de aquisição”. As pessoas terceirizavam tudo na Inglaterra e nos EUA, e me tornei Mr Editor de Aquisição Terceirizado.
Então, para ter autores me contatando para saber como fariam para que o seu manuscrito desse um pulinho para o topo da pilha, foi um pulo. Era uma coisa ultra-secreta, meio James Bond, às vezes, e a lutávamos com “armas secretas” contra o “poderoso inimigo” da rejeição.
Agora o mistério: por que o jeitinho que eu dava no texto, em muitos casos, não apenas evitava a rejeição, mas fazia um livro vender mais? Até hoje procuro a resposta. Como atualmente está ficando cool dizer quem é o “coach”, o assessor, o ginecologista ou o cirurgião plástico, bastaria fazer uma entrevista com algumas de minhas “vítimas” para saber por que me pagavam para eu chibatar seus textos, dar conselhos sobre isso ou aquilo, ouvir suas mágoas, aplacar seu medos...
Para que essa resposta não vire um romance completo, termino dizendo que, nos países latinos, todo mundo gosta de “currículo”. Para quem estiver querendo o “currículo”, fiz meu mestrado em “preparação de textos e material para publicação” e a aclamada dissertação foi “ESCREVER PARA VENDER”. E fiz 1000 cursinhos que me ajudaram, e ajudam, a apertar a mão e sorrir, não meter o dedo no nariz se a entrevista for para a TV e a não dizer que o texto de alguém é uma..., aquela coisa. Mas ainda sou muito mal comportado no palco, dou palestra de pés descalços e não uso terno nem gravata.
Ademir Pascale: Fale mais sobre as suas palestras, onde acontecem, etc.
James McSill: Pois é, as minhas palestras... na época da Collins aconteciam quase todo dia, depois virei grilo falante de autor e pararam um pouco. Atualmente elas voltaram com muita força. Com esta incursão no Brasil, nem se fala! Os brasileiros, como os americanos, adoram dividir custos, “a palestra sai mais barato”. Onde acontecem? Locais? Tanto faz, honestamente, se não houver caco de vidro ou agulha contaminada no chão já vou palestrando. Países? Só este ano, estive na Espanha para uns “talks” privados, Brasil, Portugal e Irlanda. Haviam me convidado para um evento em Nova Iorque, mas depois me desconvidaram. Agora é no Brasil novamente, e logo que retornar, EUA de novo – mas desta vez não desconvidam, a organizadora é minha sócia!
Só que, vale salientar, uma palestra é a ponta do iceberg. 30% do meu trabalho são retiros – como um que vou realizar em Friburgo em novembro – e 60% do tempo cuido de autores como coach, assessor, consultor, etc.
Para saber mais sobre esta entrevista, acesse:
http://www.cranik.com/entrevista127.html